Relembrando:
Hoje não postarei mais uma crítica sobre a Sétima Arte, como faço costumeiramente… ao invés disso, vou me permitir falar de um assunto que já me incomoda há algum tempo: a incrível incapacidade das pessoas de desligar seus celulares durante a exibição dos filmes nas salas de cinema e também durante espetáculos nos teatros. É claro que os celulares também são usados de forma incômoda em outros locais, mas irei me ater apenas a esses dois lugares em que costumo marcar presença de forma mais constante.
Antes do início dos filmes e dos trailers, todo cinema que se preza passa animações pedindo que os presentes desliguem seus celulares, mas este é um pedido solenemente ignorado pela esmagadora maioria das pessoas. No máximo, colocam no silencioso, o que equivale a atender o pedido apenas pela metade, pois quando se atende o celular durante a projeção de um filme, você atrapalha a pessoa no seu arredor, tanto com sua conversa quanto com a luz do aparelho, que vira quase um holofote no escuro da sala.
Eu sou habitué nos cines, e simplesmente não consigo me lembrar qual a última vez que consegui ver um filme sem ver alguém atender ao celular. Aliás, já vi aberrações como a pessoa pegar o celular e fazer uma ligação (!!!), uma pessoa ficar teclando durante boa parte do filme (!!!) e uma ter a brilhante ideia de tocar música (!!!) quando uma vez o projetor deu pane e tivemos que ficar alguns minutos esperando o problema ser resolvido. Claro que a pessoa não se preocupou em usar fones de ouvido…
Eu me pergunto se é apenas falta de educação ou se é alguma patologia que leva as pessoas a tal escravidão para com este aparelho. Para elas é simplesmente impossível ficar por míseras duas horas com o telefone desligado… provavelmente teriam uma arritmia cardíaca se fossem obrigadas a tal sacrilégio. O celular se tornou hoje para as pessoas um verdadeiro marca-passo… se desligado, pode ser fatal.
Eu sei que para algumas profissões é imperativo estar sempre alerta para emergências, como no caso dos médicos. Eles não podem mesmo desligar seus aparelhos pois podem ser chamados para uma emergência a qualquer momento. Existem também pessoas que deixaram idosos ou crianças em casa, e querem estar atentos a qualquer problema… mas lhes pergunto: quantas vezes vocês viram pessoas receberem ligações e saírem às pressas dos cinemas e teatros? Eu, nas várias centenas de vezes que vi pessoas usando seus aparelhos (e não estou exagerando no número) nas sessões ou espetáculos, devo ter visto “uma vez e meia” alguém sair logo depois de receber um telefonema. Posso estar errado, claro, mas para mim não é questão de necessidade, é questão de escravidão mesmo (ao menos para a esmagadora maioria). A pessoa fica sem comer ou beber por horas sem problemas, mas é incapaz de ficar sem o celular.
Como ficar sem SMS, Facebook, WhatsApp, Twitter ou papo-furado neste mundo das redes sociais e da futilidade? E não são apenas os adolescentes que motivaram este texto, vejo pessoas de cabelos brancos igualmente usando os grilhões dos celulares nos cines e teatros. Questão de necessidade? De falta de educação? De escravidão eletrônica? Não sei… só sei que me sinto um excêntrico a cada vez que desligo meu celular assim que ocupo minha poltrona nos cines, infelizmente.
Quem diria que a evolução tecnológica contribuiria para a involução humana…
DALTO FIDENCIO
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Esse texto foi publicado na Revista Entrementes 0