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Com um poeta na avenida Paulista

Com um poeta na avenida Paulista

Ivan Petrovitch é o nome dele. Poeta dos bons. Gente boa. Conversa leve e inteligente.

Foi numa manhã ensolarada de um domingo, na avenida Paulista, em São Paulo. Se não me engano lá pelo final dos anos noventa. Eu me encontrava na tradicional Feira de Antiguidades que se realizava no vão do MASP. Caminhando entre telas e peças de antiquários, deparei com um jovem vendendo livros ali na calçada. Aproximei-me e comecei a folhear um livreto (tamanho 21 x 12) de poesias de sua autoria. Estação Paraíso era o título.

Gostei do que li. Uma das poesias, “Insights”, chamou-me particularmente a atenção. Tinha muito a ver com o momento existencial e psicológico que eu estava vivendo:

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“Homens

são apenas sementes,

prisões de um novo mundo.

O que existe é ausência de respostas,

Vazios profundos,

tentativas,

insights.”                                                     ……………………………………………….

Rolou um papo gostoso a respeito dessa e de outras poesias. Admiro os poetas. São criadores, artesãos de sonhos e palavras. E, ao mesmo tempo, são garimpeiros e alquimistas. Descobrem pedras brutas e as transmutam em joias raras. Brincam com as palavras, seres alados que voam no Infinito e ecoam na eternidade.

Por fim, resolvi adquirir um exemplar. Preço popular. Baratinho. Porém, me surpreendi sem dinheiro naquele momento. Esquecera a carteira no apartamento de minha mãe. Ali estava, na mais paulistana das avenidas paulistas sem um tostão furado. Com lenço, mas sem documentos. Enfiei a não no bolso da calça com esperança de encontrar algum trocado. Achei apenas um talão de vale-refeição, fornecido pelo meu empregador. Nada mais. Constrangido, expliquei minha situação:

– De valor só carrego esses vales e meu relógio.

Ele, simpático, me tranquilizou:

– Você sabia que poeta, além de cometer poesias, também precisa comer? Aceito seu vale-refeição. Fechou.

Fui embora e nunca mais o vi, nem soube de seu paradeiro. Curti suas poesias e depois guardei o livreto em algum lugar de minha casa. Dia desses encontrei-o perdido e empoeirado numa caixa de papelão. Reli os poemas e me lembrei do fato.

Por onde andará Ivan Petrovitch ?

 

Por Gilberto Silos

 

 

 

 

 

 

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