Enquanto aguardamos a estreia do novo filme, Alien: Covenant, legal ler a crítica do Prometheus:
PROMETHEUS (Prometheus)
De Ridley Scott, 126 min
Prometheus
Ficção Científica
Direção: Ridley Scott
Roteiro: Jon Spaihts e Damon Lindelof
Elenco: Noomi Rapace, Michael Fassbender, Charlize Theron, Patrick Wilson, Idris Elba, Guy Pearce, Rafe Spall, Logan Marshall-Green, Kate Dickie, Sean Harris, Emun Elliott, Vladimir “Furdo” Furdik
Esta é uma crítica bastante complicada de ser feita, já que quem acompanha meu trabalho sabe que não me agrada soltar spoilers dos filmes que analizo… mas será muito difícil manter este modus operanti nesta crítica em especial, por ser um prequel do megaclássico “Alien – O Oitavo Passageiro”, obra-prima de Ridley Scott, de 1979. Muitas perguntas são lançadas no filme e as pessoas estão me escrevendo, querendo saber se posso tirar as dúvidas delas na crítica… sim, algumas delas eu posso, mas apenas se eu escrever um texto repleto de spoilers, o que não pretendo fazer. Bem, tentarei achar ao menos um meio-termo ao escrever.
“Prometheus” foi ansiosamente aguardado, desde que foi anunciado que Ridley Scott iria retornar ao universo da ficção científica, onde ele já havia deixado duas marcas indeléveis, com os espetaculares “Alien” e “Blade Runner”, este em 1982. Em tempo, sempre que for citar a o filme original, irei escrever apenas o nome do mesmo em inglês, “Alien”, já que me incomoda o subtítulo criado para ele no Brasil, “oitavo passageiro”, que remete a uma espaçonave que levava sete tripulantes e nenhum passageiro…
Um dos grandes mistérios do “Alien” original sempre foi a identidade do ser que aparecia já morto e de forma efêmera na lua LV 426, que é visitada pelos tripulantes da nave Nostromo. Ele acabou ficando conhecido pela alcunha de “Space Jockey” pelos fãs da saga. Bem, finalmente nós ficamos sabendo mais sobre aquela raça alienígena, além de sua importância para toda a trama.
Mas este filme não é apenas um reles prelúdio… ele tem sua própria essência e tem capacidade de se sustentar com pernas próprias… é um, digamos, “halfprequel” apenas.
O roteiro, da dupla Jon Spaihts e Damon Lindelof nos leva ao ano de 2093 (apenas um ano após o nascimento de uma certa Ellen Ripley, na lua terrestre), a humanidade descobriu várias evidências de contatos de uma civilização alienígena com inúmeras culturas ancestrais espalhadas pela Terra, e uma expedição é organizada até a lua LV 223, de onde parece, vieram esses seres. Eles buscam as respostas sobre o início da vida em nosso planeta, mas trágica e ironicamente poderão se deparar com a extinção da mesma.
A espaçonave que os leva chama-se Prometheus, em referência ao Titã que roubou o fogo dos Deuses e ofereceu aos homens. Mas antes de falar dos tripulantes da Prometheus, é imperativo citar a espetacular sequência que dá início ao filme (rodada na Islândia), pois nela ficamos sabendo como a vida em nosso planeta teria se originado… simplesmente de tirar o fôlego!
Agora, de volta à nave: como gosta Ridley Scott, a protagonista é uma personagem feminina de personalidade marcante, no caso, a cientista Elizabeth Shaw, vivida por Noomi Rapace (a Lisbeth Salander da trilogia sueca Millennium). Shaw acredita abertamente que o Homo sapiens foi criado pelos alienígenas que ela busca na viagem, que ganharam a alcunha de “Engenheiros”, o que é um dos conflitos do roteiro, pois sua personagem é também bastante religiosa, sempre carregando consigo um crucifixo. Ou seja, ela acredita na teoria do Intervencionismo, que defende que nós surgimos de uma intervenção externa de outros seres, o que contraria o Evolucionismo e o Criacionismo, esta última, a teoria favorita dos religiosos. Mas roteiros confusos e com mais perguntas do que respostas não são novidades para Damon Lindelof, afinal, seu trabalho de maior destaque foi ter roteirizado uma certa série chamada… LOST.
Rapace mostra que chegou mesmo para ficar em Hollywwod, entregando uma bela atuação. Ela pode não ter conseguido se tornar uma nova Tenente Ripley (personagem imortalizada por Sigourney Weaver), mas fica longe de decepcionar.
Mas o personagem que rouba a cena é mesmo o andróide David, vivido pelo ótimo Michael Fassbender (que já havia feito um trabalho notável em “X-Men: First Class”). Numa atuação visceral, ele demonstra a frieza de um andróide mesclado com emoções como inveja, rancor, ambição… mostrando ser o mais “humano” dos personagens, mesmo sem possuir uma alma. Enquanto a tripulação hiberna num sono criogênico por dois anos, ele observa os sonhos de um dos tripulantes, intercalando com infindáveis reprises de “Lawrence da Arábia”. O clássico do cineasta David Lean (duvido que o nome dado ao andróide não tenha vindo daqui) é seu seu filme preferido, tanto que ele mimetiza o personagem principal (vivido por Peter O´Toole) até na aparência dos cabelos.
A ótima Charlize Theron vive Meredith Vickers, a representante da Wayland Corp, empresa que financia a empreitada. Fria e calculista, sua personagem parece ainda menos humana que David, o que faz até com que um dos tripulantes a questione se não seria também uma andróide. Infelizmente sua personagem tem o desenvolvimento prejudicado, e o talento da atriz acaba por ser pouco explorado, numa personagem com pouca profundidade.
Os demais personagens são desinteressantes. Mesmo assim, destaque para os vividos por Logan Marshall-Green e por Guy Pearce… menos pelas atuações e mais pela relevância de seus personagens. Marshall-Green vive Charlie – o companheiro de Elizabeth Shaw – que terá um papel fundamental num experimento desatinado por David. Já Pearce vive o ancião Peter Wayland, o financiador da viagem. Ele está irreconhecível debaixo de quilos de maquiagem, que o deixaram com uma artificial aparência de uma pessoa centenária. O curioso é que em nenhum momento Wayland aparece quando jovem, então a escalação de um ator mais velho para o papel talvez caísse melhor.
Ridley Scott se mostra muito à vontade no terreno que parece ter nascido para habitar. Em sua volta à sci-fi, ele nos entrega um ótimo trabalho, sabendo explorar com maestria a atmosfera de tensão e claustrofobia do filme. Temos aqui o Scott na boa e velha forma de antes, bem diferente de sua produção anterior, a bomba “Robin Hood”, de 2010. Destaque também para as excelentes Fotografia e Montagem, que ficaram nas mãos, respectivamente, de Darusz Wolski e Pietro Scalia.
Visualmente o filme é simplesmente esplendoroso, magnífico… e aqui até o famigerado 3D – para mim a mais suplérflua invenção da história do Cinema – tem seu lugar de destaque, em especial nas tomadas gerais, com plano aberto, em que podemos ver os cenários em toda sua magnitude, casando com uma Direção de Arte louvável.
Os Efeitos Visuais, obra da Weta Digital, são de primeira grandeza, e certamente concorrerão ao Prêmio da Academia. A Trilha Sonora, de Marc Streitenfeld, é muito interessante, em especial para os fãs do filme clássico, já que eles poderão notar alguns trechos das músicas do “Alien” de 1979 (estas de autoria de Jerry Goldsmith).
Vários elementos cuidadosamente espalhados ao longo da película homenageiam o filme original, e os fãs poderão se deliciar na procura destes easter-eggs. Exemplos: notem como a área de refeição da Prometheus se parece com a da Nostromo, na inesquecível cena onde o chestbuster irrompe do peito de Kane, ou atentem para o apelido de Elizabeth Shaw, “Ellie”, uma clara alusão à Ellen Ripley ou ainda, no mais óbvio, o nome da companhia que financia tudo, “Weyland”.
Mas neste filme uma cena em especial também ficará na memória dos espectadores, a da “operação cesariana” em que um facehugger é mostrado pela primeira vez. Alguns reclamaram que ela é exagerada, mas a achei simplesmente memorável.
Por falar no chestbuster e no facehugger, vale destacar também a volta da participação do artista suíço H. R. Giger na produção, ele que é o designer original do xenomorfo e de todas as criaturas de “Alien”. A aparência das novas criaturas segue o mesmo DNA das clássicas, sendo um pouco diferentes mas facilmente reconhecíveis pelos fãs. Diferentes, diga-se de passagem, por se tratar de proto-aliens (também conhecidos como Deacons) … xenomorfos nascidos de um Space Jockey.
“Prometheus” tem um início empolgante, prometendo – com o perdão do trocadilho infame – ser uma nova obra-prima de Scott… infelizmente, seu roteiro contém falhas de desenvolvimento, e o filme perde vigor do meio para frente. Começa filosófico e intrigante para desandar depois num filme de ficção normal, ainda um grande filme, sem dúvida, mas sem a veia de genialidade vislumbrada em seu berço. Resta saber se as pontas soltas foram propositais, deixando as respostas para os dois filmes vindouros, que completarão a trilogia, isso sem falar da já prometida “versão do diretor”, que ao meu ver está mais para uma versão caça-níqueis mesmo.
Apesar de ter suas falhas, “Prometheus” atinge facilmente o patamar de um dos melhores filmes de ficção dos últimos anos. É esteticamente deslumbrante, e com uma bem-vinda pitada de nostalgia. O rimo da Direção de Scott prende a atenção o tempo todo, o que contribui para tornar o filme hipnotizante em várias sequências.
Altamente recomendado aos fãs de ficção científica.
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