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Tereza

Por Pedro Renato Paiva

Tereza voltava para sua casa, em sua mão uma sacola com uma garrafa de pinga e outra de conhaque. Sua pele manchada e corpo obeso escondem a beleza de outrora, apenas seus olhos verdes ficaram.

O trabalho de gari foi árduo, o pior era quando a molecada caçoava.

– Tereza cafetina.

– Terezinha cafetina.

Sua historia era conhecida em toda cidade.

Chegou em casa, deixou as duas garrafas em cima de uma mesinha de canto, foi à cozinha e voltou com um copo americano, abriu a garrafa de pinga e tirou uma dose da metade do copo, tomou em um gole só, fechou os olhos e respirou, voltou para a cozinha e requentou a sopa do almoço.

Após a sopa foi com seu copo até a mesinha, colocou outra dose de pinga e tomou.

– Mãe!

Olhou de um lado, de outro.

– Mãe!

E finalmente viu o fantasma de sua filha maior num dos cantos do cômodo. E disse.

– O que você quer. Já falei para vocês não aparecerem mais aqui.

– Por que você fez aquilo com a gente?

– Você Cátia, disse Tereza colocando mais uma dose, nunca quis nada com nada, só queria namorar; sair com os meninos; não trabalhava e nem me ajudava em casa.

– Eu só tinha dezessete anos!

– E era uma vagabunda! Em vez de ser puta aqui, foi ser em São Paulo.

– E minhas irmãs mereciam o mesmo? Elas estão atrás da senhora.

Tereza se virou e viu os fantasmas de suas outras duas filhas.

– Cássia! Carla!

– Cássia tinha quinze anos e eu apenas treze! Disse Carla.

– Vocês iam virar putas mesmo,

– Talvez, mas estaríamos vivas! Disse Cássia

Tereza colocou mais uma dose de pinga.

– Quanto recebeu pela gente? Perguntou Carla.

– Foram cinco mil e cinqüenta reais e mais um litro de “Red Label”, que bebi na mesma noite.

Tereza sorriu e continuou.

– O dinheiro durou três meses, gastei no forró com homens e bebidas.

Cássia se aproxima..

– Mamãe! Vi Carla tossir e tossir nas madrugadas, em semanas seu catarro era só sangue, morreu em uma calçada as cinco da madrugada.

Tereza esvazia sua garrafa de pinga em um só gole.

Cássia continua.

– Cátia morreu em seu ponto, espancadas pelos carecas nazistas, os malditos usaram correntes, a calçada ficou suja de sangue por dias.

E você Cássia? Como morreu? Pergunta Tereza.

– Fugi de meu cafetão, ele me encontrou, apanhei tanto que fui parar no hospital, três dias depois morri.

Tereza abriu o conhaque e tomou no bico da garrafa.

– O que vocês querem de mim.

Carla se aproximou e disse.

– Viemos te buscar Mamãe!

Tereza soltou a garrafa de conhaque que se quebrou no chão, caiu de joelhos nos cacos, em seu cérebro veias explodiram,olhou as filhas, elas sorriram e desapareceram, Tereza morreu.

Foi enterrada em uma cova rasa no cemitério da cidade.

Um ano depois, uma bela moça parou em frente à cova rasa de Tereza e disse.

– Foram seis anos, queria-te ver viva, desculpa, mas não consigo chorar.

Tirou um celular do bolso e digitou alguns números.

– Alo! Carla! Ela está morta, agora viva, sou só eu e você.

– Cátia! Quando você volta? Perguntou Carla pelo celular.

Disse uma e outra palavra para a irmã e desligou, olhou para cova e disse.

– Adeus mamãe.

Cátia foi embora sem olhar para trás.

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