Por Ronie Von Martins
No sal. Amarrado ao receio. Da água, mar lágrima. Mistura. Amálgama de dúvidas. A certeza do medo. A suspeita. Corpo preso ao mastro. Paralisado. Movimento petrificado pelo abraço do cânhamo.
Os remos surdos. Os ouvidos outros. Todos mortos. A sinfonia. A música. Distância do braço que rema. Do braço que produz e reproduz o que o sustenta.
E a música é vida. É opção. E criação além. Da representação, do reflexo, da imagem mesma, a pedra que devora o espelho.
E são lindas. Belas. Palavras soltas. Selvagens. Verbo em primeva forma. E saltam e cantam, discursam em línguas tão antigas, tão fantásticas…
Línguas que se enroscam ao caos, à criação. Língua oriunda do fluxo de todas as forças de todos os sonhos de todos os mares.
Espaço de contato extremo. Sexo. Prazer. Explosão do corpo e do eu. Implosão do “logo existo”, muito além do mero “eu penso”.
Ulisses é o nome de todo eu. Recuado em corpo, resumido em ação e movimento, ouve o canto da vida entre amarras e correntes postas.
O que interessa é o ofício. A prática aqui proposta.
Música, beleza, cultura; desvios.
E a nave surda deve prosseguir sem ouvir. Velejar apenas no traço que o suor demarca.
Cumprir a meta. Objetivo alcançado. Repetir o movimento. Produzir resultado. Acumular poder nas correntes e pelas correntes.
A sereia é apenas um luxo. Objeto de contemplação. Arte como assim definem todos os Ulisses que no mastro recusam tudo que não for factível. Já aos outros… a negação do discurso. A palavra negada. Só o braço. O esforço. Os fins. Material produção.
Não há desvios aos braços. “Não escutem, não escutem!”, Grita poderoso o senhor na altura de sua própria clausura. “Braços! Braços!”
E a arte é só um eco que repica aqui e ali. E a sereia chora abandonada. Renegada.
Não há música para a massa. Não há sereias para todos.