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Sobre a sua barriga

 

Quieto, não digo nada.

É da minha natureza observar.

Eu tenho presas e garras afiadas. Eu uso bigodes. Eu tenho um rabo como aquele do demônio.

Mas eu não sou.

Quieto, eu me banho ao sol da manhã.

À noite, sobre o muro, eu observo as estrelas.

Em cada uma delas, o brilho de uma vida.

Vejo na lua o reflexo do sol.

Quieto, eu observo a natureza.

Caminho por entre os arbustos. Eu sinto a brisa.

E o que eu vejo é reflexo de mim mesmo.

Se você mora no meio do quarteirão, eu estarei, simultaneamente, refestelado em ambas as esquinas.

Aguardando, ansioso, que você me atropele com o seu carro, enquanto dirige rápido, desapercebida.

Enquanto isso eu me banho, lambendo os meus pelos.

É que eu preciso morrer sete vezes para cumprir o meu carma.

E me tornar um bicho melhor.

Mas se você me vê, como eu realmente sou, e me dá carinho; irei retribuir em dobro.

Caminharei com as minhas patas macias sobre a sua barriga.

 

https://jorgexerxes.wordpress.com/

 

2 Comments

  1. Que lindo poema Jorge!
    Amo esses bichanos…de paixão. São animais que enxergam em todas as dimensões da natureza…Quem me dera, um dia, ter essa visão ao longo alcance. Abraço!

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    1. Author

      Oi Beth, Obrigado pelo Carinho! Fico Contente em saber que Você gostou! Um Beijo

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