Arte Cinema Gilberto Silos

A Arte e a Liberdade de Expressão

A Arte  e a  Liberdade  de Expressão

Na minha mais recente crise de cinemania revisitei alguns clássicos antigos em DVD. A intenção era  verificar se ainda continham  alguma atualidade.

No filme” Um rei em Nova York”  algo me  fez lembrar  o que estamos vivendo  hoje em dia, ou seja, a polarização ideológica atingindo a arte.

“Um rei em Nova York” foi rodado em 1957, quando o mundo mergulhava nas tensões da Guerra Fria, onde  os EUA e a União Soviética eram os principais  protagonistas. Charles Chaplin atuou, produziu e dirigiu o filme, respondendo também pelo roteiro e  trilha sonora.

Ao filmá-lo, Chaplin já não mais vivia nos Estados Unidos. Em 1952, ao retornar de uma viagem à Europa, ele que era inglês, foi impedido de permanecer em terras americanas, acusado de ser simpatizante do Comunismo.

Os filmes de Chaplin, mesmo que comédias,  sempre abordaram temas como a marginalidade e a injustiça social. Na década de 30 foi mais longe ainda, quando começou a criticar o extremismo  ideológico e as desigualdades da sociedade industrial-capitalista. Isso pode ser observado em obras como “Tempos Modernos” e o “Grande Ditador”.

Ao longo do tempo, toda essa temática despertou uma desconfiança quanto à suas  tendências  ideológicas. Chaplin acabou sendo uma das vítimas do Macartismo, a histeria anticomunista que arruinou muitas carreiras nos Estados Unidos nos anos 50 . Vários músicos, intelectuais, diretores e atores de cinema e teatro, roteiristas, dramaturgos, foram delatados pelos próprios colegas, acusados de comunistas ou praticarem atividades antiamericanas. Perseguidos e impedidos de trabalhar, alguns   buscaram  na Europa uma oportunidade para dar seguimento à carreira.

Chaplin afirmou várias vezes que em “Um rei em Nova York” não havia intenções políticas, não passando tudo de uma sátira, uma comédia.

Pressionado por uma revolta popular, o rei Shahdov (Chaplin) refugia-se nos Estados Unidos, na cidade de Nova York. Pouco tempo depois descobre que um de seus assessores fugira com todo o seu dinheiro. Conhece, então, uma jovem agente publicitária de uma emissora de TV, que o transforma, contra sua vontade, em garoto-propaganda televisivo. Oportunista, a moça aproveita a realeza de Shahdov como um atrativo de marketing para vender vários produtos de consumo. Embora detestando tudo aquilo, mas em péssima situação financeira, ele concorda em participar dos comerciais.

Sua imagem se populariza. Certo dia, convidado a visitar uma escola, conhece um menino prodígio, de 10 anos, cujos pais, marxistas, foram presos por se recusarem a delatar seus amigos. Vendo-o abandonado, Shahdov o acolhe em sua casa.

As autoridades acabam descobrindo o paradeiro do menino. Apreendem-no  e o levam  a depor num tribunal. Pressionado e fragilizado,  ele revela os nomes dos amigos de seus pais, em troca de sua liberdade.  Shahdov,  também  denunciado como comunista, é obrigado a deixar o país.

De uma certa forma, Chaplin aproveita o filme para contar o que lhe sucedera. Com uma narrativa carregada de humor ácido, revela sua mágoa em relação aos Estados Unidos.

Lá se vão mais de 60 anos do lançamento do filme, mas o que se percebe é que a intolerância político-ideológica não desapareceu. Ao contrário, ela sempre renasce e se manifesta com novas roupagens. As artes, como formas de expressão do ser humano, sempre incomodaram o poder estabelecido, e os artistas  são vítimas dessa intolerância. Isso pode ser observado no momento em que vivemos.

Por Gilberto Silos

https://youtu.be/1KYNjWoQ62k

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