A velha fotografia
Outro dia, remexendo uma pasta com documentos antigos, encontrei uma velha fotografia. Era eu em 1962. Foto tirada num sábado à tarde no Viaduto do Chá. Recém-chegado a São Paulo, sozinho, decidido a tomar um rumo na vida.
Seguia, distraído, pelo viaduto quando fui abordado por um lambe-lambe. Ainda há lambe-lambes em São Paulo? Não sei. E não sei também se as novas gerações sabem do que estou falando. Daquela época para cá muita coisa mudou, inclusive a forma e os equipamentos para se obter uma fotografia.
Só me lembro do tal lambe-lambe convidar-me para fazer uma pose. Em seguida clicou naquela máquina que hoje deve fazer parte de algum museu de antiguidades. Isso feito, entregou-me um cartão com um endereço, onde dali a dois dias eu poderia retirar minha foto a um preço bem razoável.
Agora, nestes tempos de pandemia, encontrei a foto, já amarelecida pelo tempo. Narcisismos à parte, fiquei contemplando minha imagem. Eu, ali, ainda na flor da idade. As fotografias trazem a magia da evocação. Revivem lembranças, fatos, circunstâncias e até emoções sentidas. Uma simples fotografia pode ser um baú de memórias.
Se é foto, é fato. Lembrei-me do fato ocorrido logo após o lambe-lambe terminar de fotografar-me. Ao lado, um realejo tocava uma valsa vienense. Eu só conhecia realejo do cinema ou de revistas. Curioso, resolvi bisbilhotar minha sorte. O periquito mordiscou um papelzinho amarelo, e lá fui eu ler o que o futuro me reservava: riqueza, prestígio e amor. Acertou somente a última bem-aventurança. Ainda bem. Não fora aquele grande amor, o que teria sido deste velho coração?
Por Gilberto Silos.
Essas fotos antigas guardam tantas histórias, não é mesmo?
Que legal que você guardou a foto,
Abraço!