O SOL NAS VIDRAÇAS
A tarde de setembro
fecha o cerco
sobre o quarto claro,
e o sol nas vidraças
não faz lembrar
o temporal de ontem.
As águas da chuva
descem pelo esgoto
sob a cidade lavada,
e o rio na planície
não deixa esquecer
o ciclo natural das coisas.
O destino das nascentes
sintetiza de forma mimética
a trajetória emocional
de um objeto humanizado.
Agora é andar obscuro
contra a corrente
e deixar que a pedra
arrebente a vidraça.
Depois o sol um dia
vai incidir o seu enigma
sobre uma antiga vitrine
depositária de nossos sonhos
— feito estilhaços no tempo —
O Acaso das Manhãs
Milton Resende