Márcia Silveira: perdão e cura através do amor
Por Márcia Silveira -7 de novembro de 2020
Maya Angelou foi uma artista múltipla: era escritora, compositora, poeta, cantora, dançarina, ativista. Foi a primeira mulher negra a ser roteirista e diretora em Hollywood, além de ter sido a primeira negra a trabalhar como condutora de bondeem São Francisco, nos Estados Unidos.
No livro ”Mamãe & Eu & Mamãe”, Maya fala sobre a relação conturbada que tinha com sua mãe, Vivian Baxter. Os pais de Maya decidiram se separar quando ela e seu irmão Bailey tinham 3 e 5 anos, respectivamente. Com a separação, as duas crianças foram enviadas para a casa da avó paterna, em Arkansas, sul dos Estados Unidos. Porém, quando Bailey completou 14 anos, o sul segregado se tornou um lugar perigoso para um menino negro morar:
”Qualquer garoto negro daquela idade que simplesmente olhasse para meninas brancas corria o risco de ser espancado, ferido ou linchado pela KuKluxKlan.”
Os dois voltaram, então, a morar com Vivian, na Califórnia. Ressentida por ter sido abandonada quando era tão nova, Maya teve dificuldade de se relacionar com a mãe, a quem ela chamava de Lady. Aos poucos, porém, Vivian, uma mulher forte e decidida, conseguiu se aproximar de Maya, ainda que a relação entre ela e os filhos tenha permanecido complicada.
”Bailey e eu aprendemos sem grandes complicações os costumes da cidade grande de Vivian Baxter. No geral, Bailey estava mais disposto do que eu a se integrar à vida da nossa mãe. Na maior parte do tempo, ele adorava e demonstrava a alegria de estar ao lado dela rindo e fazendo piadas. Porém, nas raras vezes em que ele se lembrava das noites solitárias no Arkansas, sua personalidade irada vinha à tona.”
É uma narrativa comovente, no qual Maya relata episódios em que sofreu abusos, machismo e racismo. Mas fala, principalmente, da importância do afeto para que ela conseguisse enfrentar tudo, tornando-se a mulher forte e determinada que foi.
”Mamãe & Eu & Mamãe” foi lançado no Brasil em 2018 pela editora Rosa dos Tempos, com tradução de Ana Carolina Mesquita.