“A Transfiguração Pela Poesia”
O poeta é um criador. Não no sentido comum da palavra, porque pode-se criar em todos os campos da atividade humana. O poeta é mais sutil, transcendente, no ofício de criar. Ele é um artesão de sonhos e palavras. Garimpeiro e alquimista, descobre pedras brutas e as transforma em joias preciosas. Como um vate, capta as angústias presentes. Antecipando-se aos tempos, vislumbra caminhos futuros. O poeta, é, sobretudo, um doce incendiário na arte de cometer poesias.
A poesia, nas palavras de Vinicius de Moraes, só ela poderá salvar o mundo. Grafei o título entre aspas porque o emprestei da crônica que Vinicius escreveu e publicou no seu livro “Para Viver um Grande Amor”. Dela transcrevi os parágrafos a seguir:
“Pode parecer tão vago, tão gratuito e, no entanto, eu o sinto de maneira tão fatal. Não se trata de desencantá-la, porque creio na sua aparição espontânea, inelutável. Surgirá de vozes jovens fazendo ciranda em torno de um mundo caduco; de vozes de homens simples, operários, artistas, lavradores, marítimos, brancos e negros, cantando o seu labor de edificar, criar, plantar, um novo mundo. De vozes de mães, esposas, amantes e filhas, procriando ,lidando, fazendo amor, drama e perdão. E contra essas vozes não prevalecerão as vozes ásperas de mando dos senhores, nem as vozes soberbas das elites. Porque a poesia ácida lhes terá corroído as roupas. E o povo então poderá cantar seus próprios cantos; porque os poetas serão em maior número e a poesia há de velar.”
Vinicius nos deixou em 1980, mas antes de cantar a sua “serenata do adeus”, legou-nos a esperança de que pelos caminhos da poesia poderemos sair desta distopia.
Por Gilberto Silos
Gilberto, realmente só a Poesia pode nos salvar de toda essa parafernália. Ela abranda, esclarece, entorpece e preenche todos os vazios com a beleza das palavras, dos sons e da grafia.