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Crítica Literária: Os caminhos de Clarice Lispector pelo Rio de Janeiro

Crítica Literária: Os caminhos de Clarice Lispector pelo Rio de Janeiro


Por Márcia Silveira -5 de dezembro de 2020

No dia 10 de dezembro será comemorado o centenário de Clarice Lispector. A pandemia acabou adiando alguns eventos comemorativos da data, mas na internet têm acontecido diversas homenagens à autora, em forma de lives e cursos sobre a sua obra.

Nascida na Ucrânia, Clarice Lispector veio para o Brasil com os pais e as duas irmãs no ano de 1922, quando tinha 1 ano e 3 meses. A família primeiramente morou em Maceió, mudando-se para Recife em 1925. Dez anos mais tarde, Clarice veio com o pai e as irmãs para o Rio de Janeiro – sua mãe havia falecido 5 anos antes. É aqui que tem início o relato do livro O Rio de Clarice: Passeio afetivo pela cidade, escrito por Teresa Montero.

Ao chegar ao Rio, a família Lispector passou breves períodos no Flamengo e em São Cristóvão, mas acabou escolhendo a Tijuca para se fixar. Morando numa casa de vila na Rua Lúcio de Mendonça, a adolescente Clarice passou a estudar no colégio Sylvio Leite, que ficava na Rua Mariz e Barros. Quando o pai de Clarice faleceu, em 1940, ela e a irmã Elisa se mudaram para a casa da outra irmã, Tânia, que morava no Catete com o marido e a filha.

Segundo a autora Teresa Montero, “os cinco anos em que morou na Tijuca deixaram marcas em seus textos, particularmente a natureza exuberante, um símbolo do bairro representado pela Floresta da Tijuca, cartão postal da cidade e cenário dos romances de José de Alencar.”

A autora conta também que mesmo mais tarde, quando já morava no Leme, Clarice gostava de passear no Parque Nacional da Tijuca, no Jardim Zoológico e na Feira de São Cristóvão – onde se inspirou para criar os personagens Macabéa e Olímpico, do romance “A Hora da Estrela”.

O livro segue os caminhos de Clarice desde a Tijuca, passando pelo Centro – onde trabalhou, obteve sua naturalização brasileira e estudou Direito –, Catete, Botafogo, Cosme Velho, Jardim Botânico, até chegar ao Leme, que ocupa o maior capítulo do livro. São bairros que, de alguma forma, foram importantes na vida de Clarice; lugares onde ela morou, estudou ou apenas frequentava para visitar algum amigo – caso do Cosme Velho.

Clarice gostava de passear e escrever no Jardim Botânico, local que apareceu em seis textos escritos por ela. Desde 2012, há no local o “Espaço Clarice Lispector”, onde existem seis bancos com frases da autora referentes ao Jardim Botânico, como essa: “Sentada ali num banco, a gente não faz nada: fica apenas sentada deixando o mundo ser.”

O Leme passou a ser a residência de Clarice em 1959. É o bairro onde viveu até o ano de sua morte, em 1977. Morou em dois endereços: primeiro na Rua General Ribeiro da Costa, depois na Rua Gustavo Sampaio. “O Leme foi o bairro onde Clarice Lispector escreveu a maior parte de sua obra”, afirma a autora de O Rio de Clarice. O local também aparecia em seus escritos: “as feiras livres e o botequim do sr. Manuel Constantino em frente ao Edifício Macedo; praia deserta de manhã cedo; o ponto de táxi; as amendoeiras da Gustavo Sampaio; e as empregadas do edifício.” Em 2016, foi inaugurada na Praia do Leme uma estátua que retrata Clarice e seu cão Ulisses.

Ao final de cada capítulo de O Rio de Clarice, a autora conta a história dos prédios, ruas e estabelecimentos frequentados por Clarice nos bairros mencionados. É uma ótima maneira de conhecer a história de locais como o Jardim Botânico, o Largo do Boticário e o Palácio do Catete, por exemplo. Porém, para quem não frequenta ou não conhece direito a zona sul da cidade (meu caso), pode ser um pouco cansativo ler sobre a história de uma farmácia, banca de jornal ou prédio localizado no Leme.

O Rio de Clarice, publicado em 2018 pela editora Autêntica, é resultado do passeio de mesmo nome organizado por Teresa Montero, que leva grupos para conhecer os locais cariocas que foram importantes na biografia de Clarice. O livro possui fotos e mapas destes lugares. No posfácio, a jornalista Vera Barroso entrevista Teresa Montero, que é também biógrafa de Clarice e conta como teve início o seu fascínio pela autora.

Clarice Lispector é um dos maiores nomes da literatura e seu centenário merece ser comemorado. Em homenagem à data, O Instituto Moreira Salles irá lançar no dia 10 um site dedicado à escritora. E a Editora Rocco lançou novas edições de suas obras, além de ter publicado compilações de todas as suas cartas, crônicas e contos. Uma obra que merece ser lida, relida e celebrada.

Nota
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Formada em Design, pós-graduada em História da Arte. Escritora e revisora. Mãe do Bruno e da Daniela. Estudante de Filosofia. Bibliófila.
 

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