É o fim do cinema?
Estamos no limiar de um novo tempo ou é apenas mais uma curva nessa cíclica transformação do mundo?
Um dia, nós tivemos o vinil e depois ele se foi quando surgiu o CD, mas depois ele voltou para os que gostam, não se perdeu, apenas se revalorizou.
Em 1975, “Tubarão” inaugura o fenômeno do blockbuster, a era dos grandes filmes de bilheteria que levou Steven Spielberg a se consagrar um dos grandes diretores do cinema em hollywood. O filme “Tubarão” estreou no cinema dos EUA em 20 de junho de 1975, inaugurando o conceito de blockbuster. Foi o primeiro filme a ganhar mais de 100 milhões de dólares com a bilheteria, além de ser aclamado pela crítica e pelo público. Hoje, “Tubarão” é um ícone da cultura pop e um filme impressionante, apesar de todos os revezes do jovem diretor para filmar. No ano seguinte, (1976) o filme foi indicado, além de melhor filme, também a melhor montagem, trilha e som, ganhando o Oscar em três categorias: Melhor Edição, Melhor Banda Sonora e Melhor Som (Robert Hoyt, Roger Heman, Earl Madery e John Carter). Naquele ano, como diretor, Spielberg competia com monstros consagrados, como Milos Forman (Um Estranho no Ninho) — o vencedor (também foi o melhor filme) —, Robert Altman (Nashville), Federico Fellini (Amarcord), Stanley Kubrick (Barry Lyndon) e Sidney Lumet (Um Dia de Cão), portanto, nem entrou na lista.
Mas estou falando de “Tubarão”, porque foi o filme que iniciou a era dos blockbuster, revolucionou o cinema em todo o mundo e foi um divisor de águas desde então. Mas, nesta primeira semana de dezembro de 2020, outro fenômeno surgiu e pode tornar-se outro divisor de águas na história do cinema, por isso relevante registrar.
Em toda a história do cinema, principalmente depois de “Tubarão”, as estreias de filmes anualmente, eram feitas nas redes de cinemas exclusivamente. O público, na espera ansiosa, iam para essas estreias lotando as salas e rendendo grandes bilheterias. Filmes consagrados pelo público e pela crítica, desfilavam todos os anos numa competição entre as grandes produtoras no mundo. E só depois de 90 dias é que esses filmes poderiam ser distribuídos para TV (ou DVDs antigamente), para serem assistidos em residências.
Mas 2020 tornou-se um marco por conta da pandemia, que nos impede de ficar em aglomerações de pessoas. E no caso do cinema, tornou-se quase impossível apreciar os filmes nas grandes telas do cinema, compartilhando esse momento mágico com outras pessoas. As salas de cinema estão vazias. Os filmes, que foram programados para serem lançados em 2021, como ficam?
A guerra dos streamings
Podemos citar um outro fator bastante relevante que vem mudar toda nossa concepção de assistir os filmes nas grandes telas de cinema. Assim como a concepção das grandes empresas, verdadeiras franquias atreladas aos lançamentos de filmes, que possuem suas salas especialmente para isso, cobrando e comercializando produtos. Esse outro fator são os streamings, agora a todo vapor. O streaming começou com a Netflix, a primeira que lançou esse formato e detentora de certa credibilidade, com um preço razoável facilitando para muita gente. Mas a moda pegou e foram surgindo outras como a Amazon Prime, mais barata ainda; HBO GO; Globoplay; Telecine Play, etc, aqui no Brasil. Nos EUA, existem outros serviços de streaming disponíveis.
A guerra total dos streamings começa em 2020, quando a Disney Plus resolve lançar o próprio serviço e retira todos os seus filmes de outras plataformas, reunindo-os no seu próprio serviço de streaming. O lançamento da nova série, o “The Mandalorian” foi um chamariz para novos assinantes. Eu, que assino a Amazon Prime, vi todos os filmes da franquia da Star Wars sumir da plataforma, além de todos os desenhos da Pixel, da Disney, etc. Bom, a Disney Plus que oferecia seus serviços só nos EUA, veio para o Brasil no dia 17 de novembro deste ano, oferecendo várias promoções para atrair o público brasileiro e com certeza conseguiu. Dizem, que depois disso, o serviço vai ficar mais caro.
Mas o auge de tudo isso a que me refiro aconteceu essa semana, no dia 3 de dezembro de 2020, quando a Warner Bros. Pictures fez um anúncio, iniciando uma nova era para o cinema, do jeito que o conhecemos. Devido a pandemia, anunciou uma medida de investimento fortíssimo no mercado de streaming. Os filmes da empresa que seriam lançados em 2021 nos cinemas, agora serão lançados na plataforma de streaming HBO MAX, simultaneamente. Fazem a ressalva que ficarão nas plataformas por apenas 30 dias e depois removidos dos catálogos, para dar prioridade as redes de cinema. Eles afirmam que esse é um plano para 2021 e que a ideia é voltar ao normal em 2022. Será?
Eles pegam pesado com a estreia da “Mulher Maravilha 1984”, filme super-aguardado pelos fãs, adiado por várias vezes para estrear no cinema por conta da pandemia. E agora será lançado na plataforma de streaming HBO MAX em 25 de dezembro. Um chamariz para novos assinantes e para competir com a Disney Plus. E também um experimento de como será a reação do público e como serão os lucros, não como no cinema, mas para não ter mais prejuízos. E tem uma lista de outros filmes (muitos nem tem tradução de seus títulos) que terão estreias na plataforma HBO MAX (em 4K/Ultra HD e HDR).
Confira a lista a seguir:
“The Little Things”
“Judas and the Black Messiah”
“Tom & Jerry”
“Godzilla vs. Kong”
“Mortal Kombat”
“Those Who Wish Me Dead”
“Invocação do Mal 3”
“Em Um Bairro de Nova York”
“Space Jam 2”
“O Esquadrão Suicida”
“Reminiscence”
“Malignant”
“Duna”
“The Many Saints of Newark”
“King Richard”
“Cry Macho”
“Matrix 4”
Essa atitude da Warner Bros. mexe com as operadoras de cinema. Uma gigante como essa, tomando a atitude de levar os filmes para as residências antes dos 90 dias estipulados, é bem ousada. Normalmente, só depois de 90 dias é que um filme podia chegar às residências, conforme as exigências das operadoras de cinema. Nesse momento de pandemia, uma das gigantes adota uma estratégia que vem a mudar todo um comportamento adotado por décadas. Com a justificativa dos cinemas estarem fechados, estão mudando toda uma configuração no mercado do entretenimento. Os grandes estúdios ao produzir um filme gastam e lucram, mas tem que repassar parte dos lucros para as distribuidoras e para as empresas que passam o filme. Nessa quebra de paradigmas, elas simplesmente vão enviar o filme diretamente para suas plataformas de streamings que chega ao consumidor, cortando muitos gastos.
A HBO MAX, não está disponível no Brasil, provavelmente será providenciado para que venha o mais rápido possível.
A TV por assinatura quase ninguém assina…a TV aberta ainda é opção de muitos brasileiros. Mas agora as plataformas de streamings tomaram conta e a guerra está declarada.
Assistir um filme no conforto do sofá de casa, com a própria pipoca, sem gastar uma fortuna é o ideal?! E a telona mágica, tão atraente para todos nós, está em vias de acabar de vez? Dê a sua opinião…
Elizabeth de Souza
Creio que o estilo telonas vai diminuir cada vez mais. Um nicho a ser explorado seria o do cinema de arte. Há muita coisa a ser explorada nesse campo, inclusive os chamados “filmes engajados”, com temática política. Há um acervo grande que poderia ter boa aceitação nesta época de polarização ideológica.
Passando a pandemia os cinemas devem retornar pois é preciso lazer. Más eu prefiro uma peça de teatro, eventos de música. Disto estou sentindo muita falta. Imagine o Muau ao vivo?
Joka, mas por questão de lucro, os grandes estúdios de cinema vão mudar o comportamento sim. Espero que os cinemas voltem, com aquele espírito de arte, antes de ser só bilheteria.