Poética
Não pego a pá
que lavra
nos atropelos da voragem
não quero
o vórtice
a mente
a imagem dúbia
e cava
do que vibra
em artifícios de
linguagem
espero
(respiro)
a voz
motiva
– atávica –
que pulsa
luzifibra
e trama
precisa
nos interstícios da
miragem
Poesia é artifício
arte e ofício
de miragem
ao poeta é mais que isso
é fissura – sacrifício
nato vício
de linguagem
Do ofício (poema insone)
auscultando o vazio
na matéria insone
eu espaço contido
só pulso
e fragilidade
(fragmento)
vaga forma de ser
o escuro silêncio
a vida entre parênteses
o tempo
me escrevo no que ouço
insisto em tatear
na trama reticente
quem ou o que
lança o som
e o ritmo do instante
em dados sem motivo
abrindo a obra
inda descrente?
sou mais que a fome
e outra dor
um ego que teme
(por)
a pedra
a falta
labuta
a pausa que afigura
contemplo a lei
do acaso
a oficiarte-se
no impreciso
lançar-se no invisível
ao descobrimento
de uma ordem atávica
por comparações
e auditivos pesos
um contraponto é mais
que o futuro (o duvidoso)
o caminho unívoco
e a vidainda em parênteses
improviso
desfixo
resisto
concluo
(o provisório)
e renuncio…
ao ato preso à espécie
ao corpo
ao cio da palavra
entrementes
a obra jamais abolirá
o ocaso
.
Muito me toca
a palavra mistério
seu sopro ao soar
e o insondável
a que evoca
o sentido pré sentido
a raiz do mundo
a noite atuante
o sol
os bichos e as coisas
o mar e a lua
o Amor
a casa a tornar
ao sem nome
e à face una
o caminho
elo e paisagem
o chamado acordado
para a desviagem
a Força o pulso a chama
coisas que não são coisas
(a semente que brota o poema
e a que o poema brota)
origem a recordar
a vida
sem antes e após
o corpo
e no corpo
o eu
o tu
e o tudo
em nós…
…e não me basta a relativa barganha do verso
minha matemática não sustenta os caminhos desta sombra faminta
os desejos de um vazio andante
as miragens de uma sede infinita
viver é blefar
até o último instante
Gustavo Terra
2018
Magnifico , pela manhã o tempo não me bastava para ler , aqui ler e reler , sorver o nectar da palavra !