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Uma história filosófica e biográfica do existencialismo

Uma história filosófica e biográfica do existencialismo

Opinião da colunista Márcia Silveira sobre o livro “No café existencialista”, de Sarah Backewell

Por Márcia Silveira -13 de março de 2021

Aos dezesseis anos, a escritora britânica Sarah Bakewell se encantou com o livro “A Náusea”, do filósofo Jean-Paul Sartre. Esse encanto foi fundamental para que tomasse a decisão de cursar faculdade de Filosofia. Anos depois, ao fazer uma pesquisa, deparou-se novamente com a filosofia existencialista e resolveu reler as obras de Sartre, Maurice Merleau-Ponty, Albert Camus, Gabriel Marcel e Martin Heidegger. Deste resgate surgiu o livro No Café Existencialista – o retrato da época em que a filosofia, a sensualidade e a rebeldia andavam juntas, publicado no Brasil em 2017 pela editora Objetiva, com tradução de Denise Bottman.

Na obra, Bakewell passeia pela vida e pela filosofia destes e de outros autores existencialistas, trazendo seus conceitos numa linguagem clara e acessível. A autora diz que seu objetivo é “explorar a história do existencialismo e da fenomenologia de uma forma ao mesmo tempo filosófica e biográfica”, já que, para os existencialistas, era importante refletir sobre a experiência pessoal. O resultado é um livro teórico que lemos como um romance, repleto de intrigas e de histórias curiosas.

A narrativa tem início com o relato de um encontro entre Beauvoir, Sartre e seu amigo Raymond Aron, num café em Paris, por volta de 1933. Aron havia estudado na Alemanha e conhecido a fenomenologia, que, segundo ele, permitia que se fizesse filosofia a partir de qualquer coisa – até do drink que estavam bebendo. Sartre e Simone se sentiram atraídos por essa “maneira de filosofar que reconectava a filosofia com a experiência normal, vivida.”

Sarah Bakewell fez um belo trabalho de contextualização ao falar sobre o período da Segunda Guerra Mundial, uma época em que muito se pensava sobre o sentido da vida, o que foi essencial para o surgimento do existencialismo na França. Um período que também explica o engajamento dos filósofos em questões políticas – e que gerou muitas brigas e rompimentos entre eles, em função de suas visões divergentes.

O livro mostra como o existencialismo impactou toda uma geração. As pessoas se sentiam atraídas pelos temas da liberdade, da autenticidade e da angústia, muito caros ao existencialismo. A filosofia da existência influenciou a moda, o cinema e se espalhou por outros países, como a Inglaterra, os Estados Unidos e a checoslováquia. As obras escritas pelos filósofos existencialistas tinham grande repercussão. O famoso livro “O Segundo Sexo”, de Simone de Beauvoir, por exemplo, provocou grande impacto quando lançado e promoveu mudanças na vida de muitas mulheres.

No Café Existencialista é uma bela obra para quem deseja conhecer a história do existencialismo francês, a biografia dos filósofos que fizeram parte do movimento e saber mais sobre as obras literárias e filosóficas que marcaram este período. Ao final do livro, encontramos muitas páginas de notas, uma lista com nomes e breves biografias dos personagens que aparecem na obra e uma extensa bibliografia, muito útil para quem desejar se aprofundar no assunto.

Livro: No Café Existencialista
Autora: Sarah Bakewell
Editora: Objetiva
Tradução: Denise Bottman
Nota: 5 (de 5)

Formada em Design, pós-graduada em História da Arte. Escritora e revisora. Mãe do Bruno e da Daniela. Estudante de Filosofia. Bibliófila.

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