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Antonio Meu Fio

Antonio Meu Fio

Como é comum nas pequenas cidades do interior, Casa Branca tinha suas figuras populares, folclóricas. Lá vivi minha infância, adolescência e alguns anos de minha juventude. Convivi com alguns desses tipos singulares. Com  sua simplicidade e alegria, em alguns deles mescladas com uma suposta dose de “loucura”,  eram benquistos e integrados na comunidade. Figuras interessantes , únicas em sua maneira de ser, simples, humildes, geralmente iletradas, algumas dotadas de uma sabedoria intuitiva de causar admiração.

Uma daquelas figuras popularíssimas, era o senhor Antonio de Paula, mais conhecido como “Antonio Meu Fio”. Era assim chamado porque, idoso, chamava a todos carinhosamente de “meu fio”. Muito simpático, moreno escuro, tipo acaboclado, semianalfabeto, era a bondade em pessoa. Durante toda a sua vida exerceu a profissão de encanador e limpador de fossas, naquela cidade onde a rede de esgotos beneficiava apenas uma parte da zona urbana.

Conversar com o Antonio Meu Fio era um prazer imenso, pelas lições de vida que ele, despretensiosamente, transmitia. No seu linguajar simples comentava os fatos do cotidiano usando os elementos da natureza como metáforas. Lembrava muito aquele personagem vivido por Peter Sellers  no filme “Muito Além do Jardim”. Assim ele se expressava, enquanto os mais “sabidos”, com sua verborragia erudita, perdiam-se em explicações e conceitos poucos acessíveis à maioria do ´povo.

Antonio Meu Fio faleceu há exatamente 60 décadas. Ao seu sepultamento, numa manhã fria de domingo, compareceu uma multidão. O esquife foi conduzido ao cemitério pelos soldados, fardados, do Tiro de Guerra local, fato inédito na história do município. Homenagem justa a um homem justo e bom, uma história de vida iluminada pela sua sabedoria popular.

O sábio se harmoniza com todo o seu ser e vive, portanto, no melhor de todos os mundos. Percebe a realidade e consegue entendê-la. Reconhece seus pontos positivos e as lições que ela oferece. Já não busca a felicidade, pois ela se encontra em si mesmo.

Por Gilberto Silos.

 

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