O Poema Não Parido
Despertei nesta manhã fria de maio com fome de poesia. Existe fome de poesia? É o que minha alma sente, cansada de tantas notícias perturbadoras. Cloroquina, CPI do Covid, ameaças à Democracia, tudo isso esgota minha paciência e ofende meu bom humor. Haja resiliência para viver o dia a dia com equilíbrio.
Para fazer um contraponto a essa atmosfera conturbada, bem que gostaria de escrever um poema. Que pretensão a minha! Justo eu que sou pedra bruta, tronco rude e torto. Sem olhos para flores, nem ouvidos para trinados. Gente assim é pouco permeável à inspiração. E, como me falta inspiração!
Então, se me falta inspiração, tento escrever sobre ela. Sua ausência é a aridez que me atormenta e frustra. Vejo-me órfão de ideias e emoções, capazes de me levar a cometer um poema. Para mim, particularmente, elas têm de caminhar juntas, simbióticas. Ideias, somente, produzem linhas frias, sem brilho. Sós, as emoções tendem a gerar um caos literário, sem rumo, nem prumo. Isoladas, ideias e emoções, tudo se transforma num amontoado de palavras, com o risco de não encontrar ressonância no íntimo de quem as lê.
Admito o peso considerável das emoções, mas são as ideias que conferem ao poema um sentido de organização, dispondo as palavras com elegância e estilo.
O equilíbrio e a elegância formam a roupagem do poema. A roupagem veste a emoção – uma é o corpo, a outra o espírito. O corpo só justifica sua existência se contiver o espírito, emoção e energia que lhe dão expressão.
Bem leitor, a você que com paciência e boa vontade conseguiu acompanhar estas linhas até o fim, só tenho a agradecer e confessar que mais uma vez a inspiração não me acudiu. O poema não foi parido. Fica para uma próxima tentativa.
Por Gilberto Silos
Gilberto, vamos ins-pirar e ex-pirar, esperando a ins-piração chegar. A poesia é uma piração.
Abraços