MEU CORPO SOCIAL: UM LIVRO QUE VAI DO PESSOAL AO COLETIVO
Memórias e ensaios trazem reflexões sobre o indivíduo e a sociedade
Desde o início do século XX, a Psicanálise e a Literatura vêm remodelando as visões dos sujeitos sobre si mesmos. Tanto o inconsciente quanto a produção literária estabelecem uma relação importante com a linguagem. A escrita, assim como o sonho, pode ser a expressão de um desejo inconsciente, de um saber que o sujeito-autor ainda desconhece.
E foi mergulhando nessa abordagem reflexiva e psicanalítica que nasceu a obra “Meu corpo social”, livro que o escritor Gustavo Sartori Barba acaba de publicar pela Editora Penalux.
O QUE PRETENDE O LIVRO?
Sartori, que é empresário e bacharel em Direito, também estudou antropologia e psicanálise. O que, de certa forma, justifica e legitima a gênero do livro, que transita entre os relatos autobiográficos e os ensaios de cunho social, psicológico e antropológico.
“Com esses escritos, eu busquei refletir o mundo a partir de passagens autobiográficas, valendo-me de ideias da sociologia, psicanálise e fatos históricos”, diz o escritor.
Trabalhando com a linguagem, e com o inconsciente, Gustavo Sartori empreende o ir e o vir do contexto social para a experiência subjetiva.
Seu livro também traz a descrição de um Brasil em conflito social, racial, econômico.
“Um país onde a violência está velada e ao mesmo tempo assentida”, aponta Sartori. “O livro pressiona o leitor a posicionar-se subjetivamente sobre as fissuras narradas”.
ABORDANGES ÍNTIMAS E COLETIVAS
De fato, as perguntas que “Um corpo social” elabora acerca das consequências da história política do país nos coloca de frente a questões permanentes, para além da organização temporal, material e histórica. Tocam a atemporalidade do inconsciente.
Sartori intenciona induzir o leitor a questionar os papéis sociais em que o indivíduo está inserido. “Se eu conseguir fazê-lo refletir sobre essas questões, meu livro terá cumprido o seu papel”.
“Meu corpo social” é uma obra autobiográfica, por vezes intimista, mas em vários momentos transmuta-se em algo mais amplo, como um tratado social. O autor nos instiga, como leitores e sujeitos, a empreender por nossa vez o desafio de expressar a trajetória subjetiva por meio da linguagem.
“Tento promover nessas páginas uma investigação das raízes sociais, históricas e psicossociais”, comenta o autor. “Todas essas questões que forjam o homem branco e de classe média do interior do Brasil contemporâneo e cosmopolita – eu como modelo”.
UMA OBRA ESTRANHA
O escritor Luiz Biajoni, que assina a orelha do livro, considera “Um corpo social” um livro estranho. “Creio que essa possa ser uma das melhores qualidades de um livro – ou de qualquer obra artística. A estranheza sugere originalidade”, defende Biajoni. “A estranheza deste livro não emana da busca por uma forma inovadora de escrita – o texto é bem formal e claro – nem por um choque temático ou impactante – parece até falar sobre coisas banais. O inusitado, que leva ao estranhamento, é como vemos, diante de nós, as formulações, dúvidas, questões e conclusões do narrador de maneira subjetiva e subjacente”. E finaliza: “Chegamos à conclusão, através da leitura, que não há nada mais estranho que o ser humano. […] Somos todos estranhos – mas podemos melhorar”.
UMA CONFISSÃO INSPIRADORA
Outro ponto importante deste livro do Sartori é o seu tom confessional. A exposição corajosa e honesta do seu próprio processo analítico podem ser motivadoras, inspiradoras e prazerosas para muitos leitores.
Por essas e por outras, “Meu corpo social” é um livro que merece ser lido e apreciado.
A obra já se encontra à venda do site da editora e em outras plataformas de vendas on-line, como a Amazon.
TRECHO:
“O caldo cultural em que fomos cozidos possui temperos e bases que remontam aos nossos ancestrais mais remotos e a sabores que vieram sendo depurados por toda a história, de nosso país e de nossa região em particular. Portanto, não tenho a pretensão de esgotar ou sequer criar um panorama geral das minhas raízes mais profundas de comportamentos e costumes, o que, aliás, se chocaria também com a personalidade única que cada um de nós experimentamos ao sermos nós mesmos. Ao contrário, esta é uma busca pessoal por minhas origens no campo do imaginário. Há preconceitos e marcas linguísticas que carregamos, gostos pessoais e objetos de desejos moldados em nosso fluxo afetivo pela cultura que nos gerou, persistentes mesmo após as reflexões da vida adulta. Ainda que nossos esforços em abandonar estas amarras sociais nos façam crer que as tenhamos superado, percebemos que, sutilmente, ficam marcadas em nosso corpo e mente.”
SERVIÇO
Meu corpo social, Gustavo Sartori Barba – memórias; ensaios (120 p.; 14×21), R$40,00 (Penalux, 2021)
Link para compra: https://www.editorapenalux.com.br/loja/meu-corpo-social
SOBRE O AUTOR
Gustavo Sartori Barba nasceu em Americana/SP onde vive até hoje. É bacharel em direito, empresário e escritor por ocasião indefinida. Estudou também um pouco de tudo e de nada, muito.