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O Louco Pensador

O Louco Pensador

olhando o rio barrento o louco pensava saber
que as águas deveriam ser limpas
mas o homem normal não entendia
que existia um sacrifício em ter normalidade,
seu enferrujado relógio
tinha perdido o coração do tempo
ficava ali amarrado na calça
não marcava horas
era uma relíquia sem sentido
de existir em sua velhice
soltava sua memoria em perguntas
onde foi que olhou a vida?
sem nada a precisar dizer
pois o homem normal não entenderia
o animal que sempre esconde
em ser palavras fendidas de dor,
sentia que mastigava
o que nunca poderia ser esquecido
as maledicências sufocadas num
monologo solitário,
olhava sua roupa esquisitas para estar no mundo
o radio companheiro de solidão
chiando o que não entendia
tinha ficado sem a ciência do saber , tudo desconhecido,
mesmo o céu azul
já se arrastava em negras nuvens ,
ele
conhecido debaixo da nuvens
como o louco da cidade , falava sozinho,
cuspia nas calçadas, soltava palavrões,
esmurrava portas imaginárias,
catava pães nos lixos
restos de comidas em bares
dançava no imaginário
o tempo que fugiu do tempo ,
cantavam canções que imitavam
os gritos dos gados nos matadouros
sua loucura era ser
o vazio da normalidade
a ser a tapera onde escondia
o sofrido do corpo
sendo do buscar
a vida em liberdade
nem o suicídio
devolveria o que restou
de ser o imundo real
do mundo a ser o excluído
ao tentar se jogar
para dentro da normalidade
e ser o inicio de uma grande sombra
a abraçar sua loucura
sendo o revolvido na
liberdade de seu velho relógio
parado num abismo
da queda de ser !

carlos bueno guedes

 

Que poema este, de Carlos Bueno Guedes! Ele inspira a ser dramatizado e gerar outras obras de arte. Quem sabe um roteiro de um curta metragem, uma peça de teatro ou um monólogo. As verdadeiras obras de arte nos passam suas verdades. Estimulam-nos a pensar e criar nossas próprias possibilidades, enquanto leitores. Torna-se criador ao absorver a sutileza de um poema como este num sábado pela manhã. E o desejo de criar, mesmo que seja uma análise crítica e a provocação por novas obras, a partir do poema O LOUCO PENSADOR.
E assim é, as artes sempre a nos transformar. Falta-me a técnica para se criar outras obras, um roteiro, peça, quem sabe uma instalação? Mas a paixão por este poema se materializa nesta crítica. E cabe a vocês leitores, suas leituras e entendimento deste poema que adentra os corações. Isto sim é a magia da arte.

 

Joka Faria, João Carlos Faria
Outono de 2021, Março.

 

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