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Comentários sobre o folclore joseense #9: Le Grand Rendezvous 1, 2 e 3

Tenho evitado comentar os eventos recentemente intitulados “Le Grand Rendezvous”. Os acontecimentos relacionados a eles são bastante polêmicos e tocam em feridas recentes da vida cultural joseense. Contudo, cedendo à pressão da mídia e dos grandes veículos de comunicação, farei um breve relato do primeiro e segundo Rendezvous e comentarei as possíveis perspectivas para o terceiro, que ainda não ocorreu.

Em poucas palavras, podemos definir Le Grand Rendezvous como um apocalipse erótico. O primeiro aconteceu nos primeiros anos da década de 90, consistindo em uma série de performances artísticas seguidas de orgias realizadas nas dependências da Fundação Cultural Cassiano Ricardo. Havia um roteiro: primeiro, um encontro com comes e bebes, depois bebes e depois comes.

Nos comes e bebes, muitos alimentos gratuitos eram disponibilizados e o microfone aberto era a regra: todos que tinham algo para dizer, diziam. Os que tinham algo para cantar, cantavam. Os que queriam pintar, pintavam. Os que queriam dançar, dançavam. Nessa dinâmica, pequenas paixonites e impulsos ígneos se manifestavam.

Após as apresentações, os membros se serviam de bebidas alcoólicas de baixo custo. Esta é a fase dos bebes, auto-explicativa.

Com a libido estimulada pelas performances e bebidas, iniciava-se a fase dos comes, onde os casais recém-formados permutavam seus parceiros em um caleidoscópio sem lógica.

Há uma fase opcional após os comes, que é a fase dos bebês: resultado possível de uma interação impulsiva e sem proteção preservativa.

Após o Rendezvous, é de praxe que haja, por conta do ciúme gerado pelas permutações, um grande desentendimento entre os membros, culminando em separações de grupos e criação de facções entre os agentes da cultura joseense. As cisões do primeiro Rendezvous permanecem firmes até os dias atuais. Entre os participantes célebres do primeiro Grand Rendezvous estão o Edugair ator, Maurícia Mercedes, Jerbas (o emancipado), Carolina das Virtudes, Jurumeu, Carlinhos Carnavalesco, Rodriga Dias, Jololóbilas e Jorger.

O segundo Rendezvous é mais recente, ocorrido em meados de 2013 ou 14 no lar de um perigoso e atuante cirandeiro (um fã de Nabokov), em uma casa de campo no alto de uma isolada colina da zona norte. Os organizadores tomaram o cuidado de seguir à risca o roteiro do primeiro Rendezvous, com a adição, neste segundo, de uma sessão de meditação (provavelmente com o intuito de produzir o despertar da kundalini em alguns membros na fase de comes). Até então, a classe artística joseense experimentava uma surpreendente coesão e inédita disposição colaborativa entre seus empreendedores da cultura. Contudo, após o segundo Grand Rendezvous, tudo foi por água abaixo: diferentes dissidências e discórdias se sucederam após a orgia desse encontro, dissipando os agentes culturais entre diversos blocos identitários. Entre esses blocos, os mais atuantes nos dias de hoje em São José são os homens desconstruídos, os cirandeiros sensuais, a máfia do cover, os cassiano-ricárdicos, os bem nascidos e os engenheiros musicais.

Fui testemunha ocular do segundo Grand Rendezvous e estive presente nas fases de comes e bebes e na fase de bebes. Infelizmente não pude testemunhar os eventos da fase de comes, que ocorreram na alta madrugada. Na época, também não havia sido informado da estrutura do Rendezvous, e achava que se tratava apenas de uma festa inocente. Por questões de segredo de estado, não mencionarei os personagens presentes nesse encontro.

Tenho notado nos grupos de whatsapp uma inquietante movimentação e boatos de que um terceiro Grand Rendezvous será realizado após o fim da pandemia. Como todo apocalipse, esse também tem suas profecias e seus profetas. Como meu compromisso é apenas com a ciência e com o poder do dinheiro, sinto que é minha obrigação informar os populares dessas tendências. Uma fonte muito confiável me informou que os planos são realizar o terceiro Le Grand Rendezvous debaixo do Arco da Inovação.

Informação aí para vocês.

2 Comments

  1. Bruno, muito bom!
    O “Le Grand Rendezvous” dos anos 90 eu sabia, alguns amigos da antiga comissão de Literatura contavam as aventuras daqueles tempos da FCCR. Nunca presenciei nada porque não participei de nenhuma comissão e também não frequentava o espaço…mas a lenda continua viva pelo que vejo.
    “Le Grand Rendezvous” de 2013 estou sabendo agora pelo inocente Bruno, rs!
    O apocalipse traz em seu bojo, muitas profecias, vamos aguardar….
    Bruno, tem muitas histórias de Sanja City que precisa nos contar…abraço!

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  2. Teve uma festa que nos organizamos na Casa Olívio Gomes e dizem ter tido uma orgia. Apesar da lenda nunca presenciei OS COMES. Mas ainda quem sabe me desenvolvo na ficção e escrevo um livro com meias verdades. Um dia voltamos de um show em Sampa com as grandes bandas e ouvimos ruídos e gemidos da fundação. Sempre sai antes dos Comes. Que ótimo seu retorno. Já es uma lenda. A sala de literatura alguns dormiam nelas. Consulte os participantes da Comissão de Literatura quem sabe os editores do Litter te conte algumas histórias. Ótimos tempos. AGORA a questão e dinheiro.

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